Thursday, September 21, 2006

saudades pelo retrovisor

CBT Javali 4x4 Turbo Diesel – repetindo a máxima: “O Trator que virou jipe”

Já ouvi de tudo nessa vida de tangências no mundo fora-de-estrada. Mas uma coisa que nunca ouvi, foi uma opinião sincera quanto ao crucificado jipe CBT Javali; uma das tentativas tupiniquins de veículo 4x4.
Precisei tirar a prova pessoalmente.

Desde os primórdios do meu interesse por esses veículos, quase pouco depois do abandono da sua produção, o último em 1994 segundo constam as informações, quando aprendi a diferenciar Toyotas, Jeeps, Engesas, o Javali sempre me fascinou por uma simples razão; a sua cara. Ele era e é diferente, na cara, na cor e no jeitão.Não é bonitinho como os Jeeps, não tem cara de cópia japonesa como as Toyotas e tem lá perdido nos cafundés algum parentesco com o Engesa, outra obra prima nacional.
Quando realmente “rompi a barreira” dos carros usuais com o meu primeiro Jeep Ford Willys 1977 original, sentia no fundo no fundo uma sensaçãozinha de traição ao velho admirado. Fica pra próxima... - pensei.

Os anos passaram e andei em quase tudo que tem tração nas 4 rodas nessa vida nem tão vivida assim. O fato é que o tempo passou, o dinheirinho apareceu e as antigas paixões resurgiram. Não queria saber das últimas tecnologias desse mundo fora-de-estrada.Estava dividido entre duas espécies distintas da fauna automobilística brasileira – um JEG ou um Javali - procurando tomar a decisão quase que escondido dos amigos entendidos, afinal pra turma “radical” de pneus gigantescos mas pintura limpa, mencionar o desejo por qualquer um dos dois, era motivo de qualquer coisa semelhante a uma risadinha.Risadinha em vão, diga-se de passagem, afinal o que se ouvia era algum comentário de alguém “adestrado” a dizer que ambos não prestavam, sem nunca ter ao menos sentado em algum deles, quiçá visto um espécime de verdade.

Aproveitei uma festa familiar em Porto Alegre pra comprar um CBT, perdido no sítio da antiga proprietária, isso mesmo proprietária, em Gravataí. Bonitão em condições quase originais, um pouco surrado na pintura original. O transporte via carreta cegonha para Brasília foi um parto demorado. Revisão numa oficina despreparada pra receber o jipe, e lá fui eu com pneus e capota novos.

Vamos ao que interessa.
O Javali é um talento desperdiçado, mas com grande potencial.Desperdiçado porque poderia ter evoluído. Mas não se podia esperar muito de um veículo 4x4 que era vendido ao mesmo preço do popular da época, o Chevette.Uma lataria, chassis e longarinas absurdamente fortes e bem soldadas, um conjunto de feixes de molas bem estruturado ainda que seja tecnologia antiga.Um espaço interno inigualável aos jipes do gênero de qualquer lugar do mundo.Pecou na sua simplicidade e no seu jeito bronco de ser destinado a poucos que poderiam dominá-lo. Um sistema mecânico simples e bruto, mas bastante confiável.Ótimos freios à disco originais, ótimos diferenciais Danna...isso mesmo...a mesma marca que equipa boa parte dos bonitões de hoje em dia !!
Um motor 3 cilindros Turbo Diesel de 85cv...segundo boatos, cópia de um estacionário Mercedes-Bens bem semelhante...que alguns exagerados, da mesma turma dos “adestrados” lá de cima, diziam surtadamente que trincava a carroceria. Ora, nenhum engenheiro da CBT em sã consciência iria manter a produção de um jipe por 5 anos consecutivos se algum grupo de infelizes tivesse se juntado para apresentar qualquer queixa do gênero na ocasião. Tudo mentira. De fato vibrava como qualquer motor à Diesel de baixa rotação, mas não era nenhum holocausto. Falhou em ser filho único desprovido de atenções do mercado e por desenvolver pouco dentro-de-estrada (sejamos sinceros, uns 100km no máximo) se comparado à outros, apesar de extremamente econômico em todas as situações (uma média de 13km/l de Diesel em 4x2, nada mal....). Esquentar um motor daqueles era quase impossível. Era um motorzinho simpático e bem forte para o mato.

Um sistema de câmbio Clark de quatro marchas...sim !! a mesma marca que equipa alguns do bonitões de hoje em dia....bem macio e de fácil manuseio. Caixa de tração prima do Willys - mesma ordem de engate, o mesmo princípio. Rodas livre AVM manuais...sim !! a mesma marca que bla bla bla...embreagem hidráulica oriunda dos tratores de pequeno porte da falida CBT.

Mas nem tudo era tão simpático assim.
O sistema de Direção...maldito sistema de direção que arriava o braço de qualquer parrudo afoito, que dirá de um simples mortal. É dura...mais dura que casca de tartaruga ou pão velho, nas devidas proporções é claro...eu tô falando sério...é dura !! Alguém lá da CBT na ocasião não ia com a cara do pessoal da ZF, famosa marca de sistemas hidráulicos de direção, ou nunca previu que um dia as pessoas iriam ficar mal acostumadas com o que se tem hoje em dia.

Bom, ele ainda trazia, hoje em dia esquecida, proeza de se baixar o pára-brisa.Para os que engolem mosquito ou preferem a casca fechada que os protege das temidas mazelas da urbis moderna, onde o jipe transita em 99% das vezes que sai da garagem, isto não faz diferença. Mas pra quem curte um dia de sol, a brisa noturna, e tá pouco se lixando se o chefe vai reclamar do cabelo despenteado, ah sim...dá tanta saudade !!
Enfim, pra quem pretende e pode se aventurar na opção de compra de um Javali, prepare-se pra cuidar de um cara tímido, mas que aceita qualquer roupa nova que muitos não vestem, por um custo muito menor dos que muitos nem tão merecedores e inflacionados senhores à Diesel recauchutados por aí. E se ele ainda estiver como veio ao mundo, parabéns, é a prova de que tudo o que se tem dito de mal vai por água abaixo. Dê uma ligeira atualizada e divirta-se. Só não o tenha como filho único, pra evitar decepções.

A minha estória terminou com um rito de passagem a outro apreciador como eu, nas mesmas circunstâncias de distância, uma estória que poucos acreditam como poucos acreditaram na minha, na ocasião da compra. Foi o sapato que serviu no pé de quem teve vontade de calçá-lo.

E porquê o vendi ? Xii...aí entra uma outra paixão que não vai caber nesse blog.

Boa sorte !!

Rodrigo Medeiros

18 comments:

Rodrigo said...

Muito legal seu depoimento, linkei no meu blog. Dê uma olhada:

http://blogdojeep.blogspot.com/

Anonymous said...

Trocou o valente javali por qual veículo ??? Ficou a curiosidade... Abraço.

cesar@aasp.org.br

Anonymous said...

A grande verdade que o cbt javali e um veiculo unico sem precedentes fui proprietario de um em 1993 com,km baixa e c\procedencia,a incomodaçao foi enorme,vendi o modelo em 95,e hoje em dia estou pensand em comprar um e adaptar toda mecanica da s10.resultado .apesar da incomodaçao que tive ainda me sinto atraido pelo modelo,ja tive ,niva,ford.land rover,mas o que eu quero e ter e um cbt javali confiavel bonito,economico em breve terao fotos dele aqui no blog...

Rodrigo Otávio said...

Opa! Show de bola o post. Sou tbm de Brasilia, e estou caçando um Jeep. Ando pensando em um Javali. Sabe de algum especime por perto?

Obrigado!

Anonymous said...

Cara!!!

Curti muito sua descrição do Javali! Eu mesmo tenho um a 10 anos e amo essa meu jipe, muito bem, forte e logico, faz a festa em todo lugar que chega, ainda mais camuflado!!!Pena ter vendido seu Javali, mas tudo um dia chega ao fim, o meu ainda espero estar longe, pois tenho muito oq viver com o meu filhotão!!

Grande Abraço

Emanuel / Campinas-SP

Unknown said...

Ao entendedores de CBT Javali peço ajuda:
Quero comprar um Jeep e vi a foto de um Javali.
Nunca vi um ao vivo nem conheço nada dele.
Vi os Posts anteriores e fiquei animado.quem sabe resolvo por ele e não por um Ford ou Willys.
Comentem esse anuncio no ML, tô pensnado em comprar.
http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-101879799-jipe-jeep-javali-4x4-mec-toyota-bandeirante-diesel-pneus-33-_JM

Mandem comentários para mim ou poostem aqui.
svasco@dec.ufms.br

Abração

Sérgio

celso muniz said...

vasco: uma coisa é certa: o javali não é jipe para amadores(sem nenhuma ofensa). é um bom jeep, no melhor estilo puro e duro. se é isto que você quer, vá em frente, ainda mais com a robustez e confiança do motor mercedes 608, que cuja única quebra é o quebra queixos de motoristas, pela vibração da sua baixa rotação.
o javali deve ser encarado como isto mesmo: " como um porco selvagem e não como um suv ou crossover como muita gente quer fazer dele(querem andar a cem e depois reclamam da sua indirigibilidade).
é obviamente redundante que o javali é um trator, em todos os sentidos.e isto pressupôe pulso forte para domá-lo. de resto, os problemas apresentados, tem a ver a maioria deles, pela inabilidade dos condutores que não respeitam suas características.

Pedro Ivo said...

eae brother...

cara to querendo pegar um jipe mas naum sei qual, e pelo jeito você entende do assutno...
estava olhando varios modelos, willis, samurai, jpx, javali, dentre outros, mas como que eu naum tenho nem uma experiencia, posso acabar escolhendo errado e me ferrando...
para que que eu quero um jipe? trilha, barro, rios, o que vc imaginar, quero um que não me deixe na mão...
sobre sua velocidade sobre estradas isso não é de tanta importancia, contato que não fique parado ta valendo...
vendo este meu problema o que você axa e qual é a sua opinião???

brigadooo
e depoimento muito bom sobre o jipe javali

celso muniz said...

pedro: minhas desculpas pela demora em responder. estou ainda fora do espaço net(sim,há lugares no brasil - onde só jipe chega/as vezes nem eles/ - onde não há internet e estou sail away por ai.

antes de mais nada, tudo depende do seu orçamento.

depois disso, considero que vem os critérios de manutenção(facilidade de encontrar peças e mão de obra que entenda) e o que você quer realmente do jipe(ir a lugares em fim) ou para aquela coisa do fim de semana. economia de combustível é desejável, mas nestes casos não pode ser o critério preponderante.

para ir ao fim do mundo, o engesa(que hoje renasceu como "marruá", pela agrale). oconsiderado um dos melhores jipes que já andaram no brasil. motor de 6 ou 4 cilindros(de opala) ou algumas versões a diesel. aconselho você a dar uma pesquisada no google.

a questão é economia e resistência, para o fim de semana: suzuki samurai, sem dúvida.

conforto, muito conforto, e boa capacidade de enfrentar desafios?jpx. mas cuidado com a versão "chaleira de trilha",a quem vem com o motor peugeout xud. se for o caso, veja se fizeram a troca do radiado por um cooler e tudo o mais(pesquise na net)(eu não confiaria só nos que tem apenas o by pass feito - tudo isso você encontra pesquisando no google.


o bandeirante, o nome já diz tudo. ultrapassado, quebrador de queixo e tudo o mais. mas ele chega e lá e não faz feio. mas é um dos ecologicamente menos corretos, se for o seu caso respeitar.


o clássico bom e velho cj willys só mesmo se você tiver um conta no banco com o saldo da largura dos pneus.

sim, claro o javali, não é opção de jogar fora, mas convém fazer uma revisão acurada das transmissões.


e, tenho de puxar a brasa para minha sardinha, o jeg, surpreende se você for um cara que domine alguns macetes da condução 4x4, neste caso 4x2.


fora isto, tem os defender da vida, e todos aqueles que você vê mais em estacionamento de shopping do que se engalfinhando em poeira, pedra, lama que não faltam made in brasil.



abraços

Roland said...

Olá pessoal,
Sou fã do Javali tb e proprietário do Javali do Rodrigo Medeiros do texto!!!!De Brasilia foi para MG e agora na Bahia!!!!
Abs

Roland

Fred said...

Olá Rodrigo,

Sou trilheiro e já tive a oportunidade de possuir um Willys CJ5 e atualmente faço minhas brincadeiras de Troller.

Muito legal a admiração que desenvolveu por seu antigo "porco do mato".

Apenas me entristesse saber que todo o potencial descrio neste texto (Que para mim foi um aprendizado) está sendo desperdiçado.

Conheço o atual proprietário deste Javali e posso afirmar ategoricamente que a trilha mais árdua que ele já participou foi uma breve ida ao Shopping.

Arrisco a dizer que depois que está com o atual proprietário (A mais de um ano) não conhece sequer um pingo de chuva, mesmo em cidade.

A única vantagem que vejo nesta " conservação" do veículo é a possibilidade de incluir com letras garrafais em seu anúncio de venda: C A R R O D E G A R A G E M!

Se tiver uma oportunidade, dê uns conselhos ao novo proprietário (Sr. Roland) que carinhosamente o apelidamos de Joaninha. (Este é outro assunto, que ele mesmo poderá lhe contar os motivos)

Abraços e caso ainda esteja na atividade, boas trilhas!

rubens said...

nao tinha nenhum gosto especial por jeep,mas depois de conhecer e agora reformando a 3meses um javali 90 em estado muito bom mas precisando de carinho e dum novo dono foi com que hoje,leio tudo e aprendi muito sobre esse gigante da cbt que hoje eu me orgulho de ser dono de um 4x4 javali.tenho tudo registrado dsd qndo vi ele no meio do mato abandonado ate a minha garagem onde desmotei todo ele so ficou o motorzao e chassi o resto,ta sendo restaurado de fio a pavil,aguardem abç rubens mafra-sc .email rubens.all@hotmail.com

Henri said...

Comprei um javali 89 com motor maxion D20 turbo, cambio/reduzida da toyota, direção hidraulica, embragem hidraulica, comprei sem noção nenhuma, nao perguntei pra ninguem se era ou nao bom, na primeira trilha quebrou a roda livre, meu deus que dificuldade "mosca branca de olhos azuis" ai fui num mecanico das antigas e testando servio o da L200 antiga, la fui eu de novo pra trilha, subindo um morro quebrou o semi eixo dianteiro (original) este nao teve jeito nao encontrei, ai fiquei chateado pensei em vender o bichinho, um amigo me deu a ideia de adptar os eixos da Toyota Bandeirantes, comprei e coloquei ai sim, agora e so felicidade nao quebra mais, vou viajar com ele anda 120km facinho e o espaço interno e brincadeira sem contar que o bicho e bruto onde passo todo mundo olha.
Resumindo nao vendo meu javali por nada e nao tem essa que racha, pelo que eu faço o meu tinha partido no meio e uma maquina.

antonio sadhana said...

sou de MG são joão da lagoa, e possuo um jeep javali a mais de três anos. compramos a sucata dele e ficamos 2 anos e meio com ele na oficina reformando, ficou quase perfeito, exeto pela caixa de marcha, tração e redução que o mecanic0 antigo dele roubou. mas msm sem reduzida e tração esse jeep ta aquentando firme e forte o trabalho pesado nas fazendas. não troco esse carro por nada, ele não tem preço. a reforma dele ficou algo em volta de R$30.000 a R$35.000

Anonymous said...

É MUITO LEGAL VER VÁRIOS DEPOIMENTOS FALANDO BEM SOBRE O JAVALI, POIS TENHO MUITO ORGULHO DE TER TRABALHADO NA MPL MOTORES, ONDE ERA FABRICADO O MOTOR DO JAVALI. SINTO SAUDADES DE ESTAR LA USINANDO AS PEÇAS PARA O MOTOR, VENDO NASCER TODOS OS DIAS VÁRIOS MOTORES QUE HOJE SÓ TENHO LEMBRANÇAS.....

Unknown said...

Tenho que se desfazer do meu, infelizmnete....
http://carro.mercadolivre.com.br/MLB-498634218-jeep-cbt-javali-_JM
Mauricio.

Unknown said...

👏

Sandra said...

Fiz questão de ler até o final...
Minha família foi revendedora CBT e cresci ouvindo as mais pitorescas histórias sobre o trator e o Javali, que quando lançado eu já trabalhava com a família, ainda jovem.
Praticamente abrimos a fábrica, revenda número 2, até seu fechamento definitivo nos anos 90.
Sempre fui apaixonado pelo Javali e reconheço que, em estado original, ele não é pra qualquer um, tem que ter braço e perna pra freia-lo, já que não vinha equipado com servo-freio.
Mas era robusto, simples e confiável como todo CBT.
Parabéns pelo post!