atravessei a estrada com calma. dois jegues de uma só vez. sou mesmo um cara sortudo. e, se mais não tivesse, o mesmo jegue que havia "namorado" quase um ano antes. desta vez não passa. vai ser meu. cacete! hoje é mesmo meu dia de sorte.
já não estava bem conservado. lona da porta esquerda rasgada. um pouco de água acumulada no interior. largado. como brinquedo que perdeu a graça. a graça, para o proprietário da oficina de peças usadas e desmaches de kombis, era o outro. jegue azul, com frente já modificada, bancos de fibra de ônibus, pneus ao teto. saiu arrancando peças e acessórios originais e sapecando restos de kombi aqui e acolá. quem sou eu pra " dar pitaco" no brinquedo dos outros. além disso, o que estava a venda era o " meu".
quanto está pedindo? interpelei, com aquela entonação com que sempre tentamos passar um certo ar de desinteresse, tipo mais curiosidade, do que vontade de comprar, coisa de malandro amador, que por isso mesno nunca funciona: — 4 mil reais!, retrucou ele, sem raspar marcha.
risinho meio amarelo o meu. calei. dei mais duas voltas ao redor.e fui embora. dia de sorte? ainda não seria o dia. 4.000 ? conversando comigo mesmo, nem pensar. quando me pediram 3.500, por 2.500 ainda podia me balançar. agora, largado, no sol e na chuva e sabe-se lá mais o quê, 4.000 ? nem pra conversar.
atravessei a estrada de volta ainda com mais cuidado, entre o meio puto e o decepcionado e fui embora. a coisa agora empacou de vez. eu e o jeg, agora já começava a pensar, não íamos ter estradas em comum mesmo. dei de ombros, aparece outro. mas sai de pneus murchos.(continua para a semana).
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